Plano para recuperar região que vai de Minas ao Espírito Santo custará R$ 2,5 bilhões ao longo de 30 anos
POR MÍRIAM LEITÃO
Aimorés (MG) e Colatina (ES) - Adonai Lacruz, administrador do Instituto Terra, começa a falar com naturalidade como se não fosse espantosa cada frase do que está dizendo:
— O primeiro sonho já está realizado. O instituto plantou uma floresta. Foram dois milhões de mudas plantadas que cresceram e hoje são árvores. Os 700 hectares da fazenda estão cobertos. O viveiro produziu, ao todo, quatro milhões de mudas, em 16 anos, para nós e outros projetos. Agora estamos começando outro sonho: proteger todas as nascentes do Vale do Rio Doce. Vai levar 30 anos.
Transformar uma terra seca numa floresta que hoje enche os olhos de verde é muito, mas fazer um programa para todo o vale parece loucura. É um território do tamanho de um país, equivale a um Portugal. Mas no instituto a gente começa a achar que o impossível acontece. O Rio Doce e todos os seus afluentes estão incluídos no novo sonho, que é o de cercar cada um dos 375 mil olhos-d’água. O rio que nasce em Ressaquinha, na Mantiqueira, em Minas, percorre 853 quilômetros até encontrar o Oceano Atlântico em Regência, Espírito Santo.
Quando as pessoas que trabalham no instituto fundado por Lélia e Sebastião Salgado falam que estão começando um trabalho, é porque andaram bastante. Nos últimos quatro anos, o projeto foi elaborado e teve definidos seu custo e sua viabilidade. Já está encerrado o piloto, no qual foram protegidas quase mil nascentes do Rio Doce ou nos seus afluentes.
O projeto é procurar cada um dos pontos onde mina água — ou onde há chance de que a água aflore —, cercar 0,8 hectare em volta desses pontos e plantar algumas árvores para proteger. Além disso, o produtor que aderir ao projeto receberá dois presentes preciosos: o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o esgotamento sanitário instalado na propriedade. E de sobra ganhará como cartão de visitas uma placa de que aquela propriedade está no Projeto Olhos D’Água.
— Nós trabalhamos muito para transformar o projeto em unidades, para saber o preço de cada pedaço. O kit é este: duas nascentes protegidas, a regularização ambiental através do CAR e o tratamento do esgoto. O custo é de R$ 6 mil por unidade — diz Lacruz.
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O projeto completo tem um custo que assusta à primeira vista. São R$ 2,5 bilhões, mas para serem investidos ao longo de 30 anos. A certeza que se tem por lá é que ou se faz assim, anulando cada traço deixado por anos de degradação da terra e agressões aos rios, ou não haverá água para as futuras gerações. A equipe do jornal passou dois dias visitando produtores rurais, vendo de perto as nascentes cercadas, conversando com técnicos agrícolas, gerentes do projeto e o prefeito de Colatina, que é o presidente do Comitê da Bacia do Rio Doce. Dias depois, nova viagem ao Espírito Santo para conversar com Lélia e Sebastião Salgado.
O instituto dá o material para fazer a cerca, mas quem a faz é o dono da terra. O CAR, que é visto como difícil de ser cumprido pelas várias exigências burocráticas do novo Código Florestal, é feito pelos técnicos do projeto. O esgoto é totalmente instalado pelo instituto, usando tecnologia da Embrapa, simples e eficiente. Três caixas de fibra de vidro processam e destilam os resíduos do banheiro com bactérias de esterco de boi. No final do processo, sai uma água com adubo orgânico, rico em nitrogênio.
Mário Cesar de Lacerda morou em Sorocaba, e depois em Vitória, onde enfrentou várias vezes a violência urbana. Decidiu realizar seu sonho de voltar para a área rural. Ele se define como uma pessoa que tem “a cabeça voltada para a roça”. Comprou uma propriedade de 150 hectares em um distrito de Aimorés chamado Conceição do Capim. Numa das casas do pequeno lugarejo, nasceu o fotógrafo Sebastião Salgado. Mário Cesar já protegeu seis nascentes:
— Nesse tempo de seca, não secou nenhuma. No meu vizinho, secou.
http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/instituto-inicia-projeto-para-proteger-nascentes-do-vale-do-rio-doce-15920401
Contribuição Prof. Lilian— O primeiro sonho já está realizado. O instituto plantou uma floresta. Foram dois milhões de mudas plantadas que cresceram e hoje são árvores. Os 700 hectares da fazenda estão cobertos. O viveiro produziu, ao todo, quatro milhões de mudas, em 16 anos, para nós e outros projetos. Agora estamos começando outro sonho: proteger todas as nascentes do Vale do Rio Doce. Vai levar 30 anos.
Transformar uma terra seca numa floresta que hoje enche os olhos de verde é muito, mas fazer um programa para todo o vale parece loucura. É um território do tamanho de um país, equivale a um Portugal. Mas no instituto a gente começa a achar que o impossível acontece. O Rio Doce e todos os seus afluentes estão incluídos no novo sonho, que é o de cercar cada um dos 375 mil olhos-d’água. O rio que nasce em Ressaquinha, na Mantiqueira, em Minas, percorre 853 quilômetros até encontrar o Oceano Atlântico em Regência, Espírito Santo.
Quando as pessoas que trabalham no instituto fundado por Lélia e Sebastião Salgado falam que estão começando um trabalho, é porque andaram bastante. Nos últimos quatro anos, o projeto foi elaborado e teve definidos seu custo e sua viabilidade. Já está encerrado o piloto, no qual foram protegidas quase mil nascentes do Rio Doce ou nos seus afluentes.
O projeto é procurar cada um dos pontos onde mina água — ou onde há chance de que a água aflore —, cercar 0,8 hectare em volta desses pontos e plantar algumas árvores para proteger. Além disso, o produtor que aderir ao projeto receberá dois presentes preciosos: o Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o esgotamento sanitário instalado na propriedade. E de sobra ganhará como cartão de visitas uma placa de que aquela propriedade está no Projeto Olhos D’Água.
— Nós trabalhamos muito para transformar o projeto em unidades, para saber o preço de cada pedaço. O kit é este: duas nascentes protegidas, a regularização ambiental através do CAR e o tratamento do esgoto. O custo é de R$ 6 mil por unidade — diz Lacruz.
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O projeto completo tem um custo que assusta à primeira vista. São R$ 2,5 bilhões, mas para serem investidos ao longo de 30 anos. A certeza que se tem por lá é que ou se faz assim, anulando cada traço deixado por anos de degradação da terra e agressões aos rios, ou não haverá água para as futuras gerações. A equipe do jornal passou dois dias visitando produtores rurais, vendo de perto as nascentes cercadas, conversando com técnicos agrícolas, gerentes do projeto e o prefeito de Colatina, que é o presidente do Comitê da Bacia do Rio Doce. Dias depois, nova viagem ao Espírito Santo para conversar com Lélia e Sebastião Salgado.
O instituto dá o material para fazer a cerca, mas quem a faz é o dono da terra. O CAR, que é visto como difícil de ser cumprido pelas várias exigências burocráticas do novo Código Florestal, é feito pelos técnicos do projeto. O esgoto é totalmente instalado pelo instituto, usando tecnologia da Embrapa, simples e eficiente. Três caixas de fibra de vidro processam e destilam os resíduos do banheiro com bactérias de esterco de boi. No final do processo, sai uma água com adubo orgânico, rico em nitrogênio.
Mário Cesar de Lacerda morou em Sorocaba, e depois em Vitória, onde enfrentou várias vezes a violência urbana. Decidiu realizar seu sonho de voltar para a área rural. Ele se define como uma pessoa que tem “a cabeça voltada para a roça”. Comprou uma propriedade de 150 hectares em um distrito de Aimorés chamado Conceição do Capim. Numa das casas do pequeno lugarejo, nasceu o fotógrafo Sebastião Salgado. Mário Cesar já protegeu seis nascentes:
— Nesse tempo de seca, não secou nenhuma. No meu vizinho, secou.
http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/instituto-inicia-projeto-para-proteger-nascentes-do-vale-do-rio-doce-15920401
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